Editora Percurso liberou prévia de Um Amor de Aluguel - Roberta Del Carlo.
- ~ Benjamim
- 31 de dez. de 2015
- 26 min de leitura
Quem aqui quer desgustar um pouquinho de um super lançamento?

Pois então já podem pular de alegria, pois nossa queridissima parceira Editora Percurso liberou especialmente para vocês o primeiro capítulo de Um Amor de Alguel, junto com a canção que inspirou a criação da história. Vamos curtir? Vamos!

Vilma era uma mulher simples e de algumas batalhas conquistadas, vivia um casamento calmo e sem mais sonhos. No fundo, sentia que estava perto do fim, onde só esperava ter coragem para decidir o que fazer. Com a única filha, agora casada e grávida, ela começa se questionar o que ainda poderia acontecer na sua existência, onde estariam os sonhos deixados para trás. E, em uma noite, a sua vida simples muda completamente, quando se vê envolvida com um jovem rapaz que vive em um submundo, algo que Vilma jamais pensou que viveria.
E você, pagaria para ter esse amor?
Miguel era um Anjo ou uma Perdição?
O jogo começou... Intenso e perigoso! Revelando fatos ocultos do passado e surpresas maldosas das pessoas a quem mais confiava.
Cofiram o primeiro capítulo desta super história:
Seis de abril de 2013.
Era noite de sexta-feira. A casa, cheia de convidados. Mais um jantar como tantos outros, e aquilo a sufocava. A cada momento, mais tinha certeza de que, quanto mais seu marido fazia isso, mais sinais surgiam, anunciando que tudo estava próximo do fim. A vida tinha estagnado.
Vilma estava trancada no banheiro da sua casa, olhando-se no espelho e, mesmo dali, fechada, conseguia ouvir as vozes dos convidados. Precisava de alguns minutos sozinha. Assim que ajeitou as mechas soltas do cabelo amarrado em um rabo de cavalo e terminou de passar o batom, fez uma pergunta a si mesma, com os olhos fixos no espelho. A velha indagação que fazia desde os quinze anos de idade, a mesma questão que a rondava quase como um inimigo silencioso.
— Quem é você, Vilma?... Eu não sei... – respondeu para si mesma.
Vilma estava com quarenta e oito anos, tinha um casamento de quase vinte e cinco anos e, dessa união, teve uma filha, Mariana, já com vinte e dois anos e que logo se tornaria mãe. A ideia de ser avó não a assustava, pelo contrário. Porém, o seu maior medo era de que tudo ficaria estagnado, como se o fim da linha fosse isso, era como se ela não tivesse mais vontades e que mais nada desejasse da vida. Isso a deixava triste, e seu marido, Alberto, parecia não perceber o fato.
“O que a vida ainda me reserva?”.
Vilma sempre pensava nisso e, depois de alguns minutos, abriu a porta e foi encarar o seu pequeno mundo.
Não completou a faculdade como gostaria. Logo depois que casou, acabou se deixando levar pelos pedidos de Alberto e da sua família. Seu pai também era um homem autoritário e sempre achou desnecessária essa parte na vida de uma mulher, mas, ao longo do tempo, mesmo que casada, uma pequena herança inesperada foi divida entre ela e os irmãos. Na época, focando em algo que sempre quis e levando em conta que já havia se mudado três vezes de casa e que morava agora com sua família em residência própria, resolveu montar uma loja. Recebeu muitas críticas, ainda mais por não ter ajuda do marido. Vilma montou uma loja de roupas íntimas, fato que pareceu uma afronta ao seu pai. Contudo, como andava frustrada e triste com a perda do segundo filho, ninguém nunca questionou nada na frente dela. Foi assim, então, que nasceu a loja Luna Rosa, que estava, havia mais de dez anos, ocupando uma das ruas mais comerciais da zona norte de São Paulo.
Vilma atravessou a sala e observou que todos estavam com seus copos nas mãos, falando alto, devia ser sobre alguma coisa que aconteceu naquela semana no escritório, pois eles riam bastante. Também tinha aquela nuvem de fumaça que pairava no ambiente. O novo jogo de sofá de couro, em breve, passaria por uma séria faxina, aquele modelo ela tinha comprado havia apenas duas semanas. E Alberto sempre reclamava, dizia que não era muito confortável.
Agora, os grupinhos estavam prontos e espalhados pela casa. Vilma só esperava que, quando chegasse ao assunto futebol, nenhum deles quebrasse nada, pois, nessa brincadeira, perdeu dois vasos e um porta-retratos que foi estilhaçado no chão.
“Tomara que tudo permaneça como está até que o último convidado se retire” – pensou ela, quando deixou a sala, vendo que Alberto estava tão entretido que nem mesmo lhe dirigiu o olhar.
Quase toda sexta era assim. Por conta do trabalho e dos afazeres do dia a dia, o casal estava cada vez mais afastado, e Vilma não tinha coragem de confidenciar o fato a alguém. Às vezes, achava-se uma egoísta, pois nunca contou às amigas o que realmente sentia, ou o que queria de verdade, deixando, assim, que muitas pensassem que sua vida era perfeita, uma vida cor de rosa.
Era na cozinha que o grupo de Vilma se formava, se reunia. Dessa vez, sua filha estava na pequena festa, com a barriga enorme por conta da gestação de uma linda garotinha.
E o assunto delas era Clarice que se casaria no próximo final de semana, pela terceira vez! A conversa delas era animada. Ali, cada amiga fazia parte de uma fase da vida de Vilma. Apenas Lorena era uma amiga desde os tempos do colégio, muitos diziam que as duas eram como a água e o vinho, porém, Vilma nunca deu tamanha importância, ela gostava daquele jeito livre e maluco de ser de Lorena.
Clarice foi sua primeira vizinha; quando se conheceram, tão cheias de expectativas e de sonhos, nenhuma delas queria seguir o casamento como dos pais, desejavam amor do início ao fim. Até que, em pouco tempo de casada, Clarice descobriu a traição do marido. Na época, as duas choraram juntas, Vilma apoiou a nova amiga, entendeu a dor daquela moça que decidiu jogar tudo para o alto, não quis ouvir os conselhos da mãe e se separou. Anos mais tarde, casou-se com um médico, mas durou pouco, os horários não batiam de jeito nenhum e terminaram de forma amigável. Agora, casaria com outro homem, quer era cinco anos mais jovem. Quando ela revelou o fato, muitos tiveram receio, todos pensaram que o homem tiraria proveito de Clarice, que já estava quase se aposentando como Analista da Receita Federal. Porém, quando levou o namorado para que o conhecessem, logo mudaram de ideia rápido, pois viram um homem atencioso e fiel a Clarice.
Ali, naquela cozinha, também estava Zilda, que era professora, morava a duas quadras da casa da Vilma e faziam Pilates juntas. Os maridos se conheceram e logo ficaram amigos. E Chica também se fez presente, uma amiga que aparecia pouco, mas que era sempre agradável e sempre levava sobremesa para Vilma e Alberto experimentar. Lorena estava falante, sorrindo, com um copo de cerveja onde a marca do batom já tinha fixado na beirada.
Lorena era a única solteira, mas sempre tinha uma aventura na ponta da língua para contar, já estava com o quinto tom de loiro diferente no cabelo, ainda morava no apartamento que foram dos seus pais e vivia da pensão do pai. Era professora, mas um dia parou de lecionar, dizia que os jovens estressavam demais. Contudo, confessou a Vilma que teve que parar de dar aulas porque foi pega, pela direção da escola, beijando um aluno. Para não ter escândalos, afastou-se do colégio e do pupilo. Vilma nunca contou isso a ninguém, até há pouco tempo, eles tentaram fazer uma ponte entre Lorena e Carvalho, amigo de Alberto, que também estava lá, no grupinho da sala. Ele era formado em Direito e era bem sucedido, saíram apenas uma vez para jantar e, depois dali, afastaram-se, dizendo que um não fazia o tipo do outro. Todavia, Lorena pareceu interessada. Vilma não estranhou tanto, a amiga era sempre para cima e animada que logo encontraria uma pessoa que a merecesse de verdade. E Vilma também guardou segredo sobre uma vez em que, depois de um porre, Alberto disse que achava Lorena bonita. Na manhã seguinte, Alberto acordou com uma grande enxaqueca e afirmou que não se lembrava do que havia falado ou feito. Mais uma vez, Vilma guardou isso consigo, tentando viver na melhor forma com o marido e a amiga.
Vilma passou por elas e fez um carinho na a cabeça da filha, que estava sentada mais para a ponta do grupo, também rindo de algo que as amigas falavam. Ela olhava a filha, tão moça, tão decidida... Mariana tinha cabelos negros e lisos, pele clara, era mais parecida com a avó materna. Ambas eram mais que mãe e filha, eram amigas, ainda mais depois que Mariana casou e, dois meses depois, veio com a notícia da gravidez, fato que parecia tê-las unido ainda mais. Vilma tentava controlar a ansiedade para não sufocar a filha com a família do seu genro, mas sempre estavam juntas. E deu um leve cheiro nos cabelos dela, como sempre fazia quando a moça ainda era uma menina.
— Então, está decidido! – disse Lorena, animada. – Vamos sair amanhã à noite, vamos todas!
— Está certo, Lorena – concordou Clarice –, você está fazendo tanta propaganda que eu topo. Vamos, Vilma?
Todas ali presente olharam para Vilma, esperando uma resposta rápida.
— Amanhã? Claro. Mas... os maridos também vão?
— Não, apenas as mulheres, será uma despedida para Clarice – falou Chica. – Vem com a gente.
Vilma sorriu, parecia pensar um pouco antes de responder alguma coisa.
— É, mãe – Mariana sorriu e olhou para cima, para encará-la. – Você precisa se distrair mais, amanhã é sábado, é só não ficar tão tarde na loja, deixa um pouco para Andressa.
Vilma escutou, mas ainda parecia não se decidir.
— E onde é esse lugar que querem ir?
— Um barzinho no centro, rola MPB ao vivo, o lugar é super badalado, cheio de gente bonita. Eu aposto que vão gostar, chama-se Loirassa Bar – anunciou Lorena, animada. – Já fui lá algumas vezes.
— Sozinha? – indagou Mariana, de forma sugestiva. – Ou com alguém?
Lorena abriu um sorriso, mexeu no cabelo e deu um gole na bebida.
— Ah! Sabe como é Mari... Sozinha a gente nunca está.
— Por que você nunca o traz aqui?
Mariana sabia que a amizade da mãe com Lorena era de muitos anos, porém, nunca negou que algo a incomodava. Então, só provocava de leve para não magoar Vilma.
— Eu gosto de manter meus relacionamentos assim, gosto de ter os meus segredos – replicou Lorena, dando de ombros.
— Então, ele é casado?
Mariana não desistia, mesmo sabendo onde a conversa daria, ou seja, em nada.
— Não, Mari.
— O que ele está fazendo agora?
— Oras... Ele está trabalhando.
— É médico, Lorena? – perguntou Zilda, e todas prestaram atenção em Lorena.
Vilma não sabia de verdade, mas, obviamente, tinha ciência de que sua amiga não estava sozinha. Ainda assim, aquilo tudo era realmente era um mistério e, até por respeito à amiga, nunca a bombardeou de perguntas, ao contrario da própria Lorena, que vivia indagando sobre sua vida íntima.
— Não, ele não é médico, meninas.
Lorena estava ficando sem jeito. Vilma percebeu e socorreu a loira, dizendo:
— A que horas vamos? Eu vou com vocês.
— Às nove – respondeu Clarice, animada. – Que bom que vamos todas... Ah, estou tão nervosa.
E o assunto se esticou ainda mais. Vilma, então, pensou em passar no salão de cabeleireiro para mudar um pouco o visual, quem sabe Alberto notaria...
— Acho que marcarei um horário para dar um jeito nesse cabelo – anunciou seus pensamentos em voz alta.
— Isso, mãe! Faça luzes, troque o esmalte, use mais escuros – Mariana começou a dar dicas para o que a mãe poderia fazer, até se convidou para irem juntas no salão.
Lorena se afastou um pouco do grupo e, colocando-se ao lado da amiga, disse:
— Não corte, Vilma, e esse tom está bom... Castanho claro fica ótimo em você.
— Acho que vou escurecer um pouco.
— Bem, eu acho que está ótimo assim – insistiu Lorena, dando de ombros, quando viu o olhar que a Mariana lançou.
Vilma sentia o clima tenso entre elas, e fazia de tudo para aquilo não esquentar. Sendo assim, decidiu desviar o assunto, indagando:
— Mas, então, Clarice... Animada? Já está tudo pronto ou quase tudo?
— Ah, Vilma, está quase... Mas sabe como é, tem tantas coisas ainda para resolver que só por Deus!
E as horas avançaram...
E, depois, o silêncio na casa, a sala vazia e cheia de copos espalhados, pratos e talheres por quase toda parte... Alberto tomava banho, enquanto Vilma recolhia a bagunça. A casa ficou devastada de uma hora para a outra, tanto que ela nunca mais contratou uma diarista para sexta-feira, a moça vinha aos sábado ou na segunda, nem parecia que eram sós os dois que moravam ali, a residência mais lembrava uma república de jovens universitários. Nem mesmo quando Mariana era adolescente, as coisas ficavam daquele jeito, Alberto nunca a deixava fazer festas. No máximo, duas amigas. Quando a menina fez quinze anos, alugaram o clube e fizeram uma grande e bela comemoração. Quando completou dezoito, pagaram uma viajem para a Disney, Orlando-EUA. Porém, nesse ínterim, quando Mariana chegou aos dezesseis anos e Alberto estava viajando, Vilma deixou a filha fazer uma festa, daquelas de estilo americano, e a garota poderia convidar quem quisesse. Foi divertido e, no final, Mariana e as amigas deixaram tudo em ordem, enquanto Vilma e Lorena tomavam vinho na varanda, relembrando seus tempos de adolescentes.
Mas, agora, ela estava ali, sozinha. Assim que colocou tudo em cima da pia e deixou a casa um pouco mais apresentável, passou pelo quarto de casal e olhou para Alberto, que dormia esparramado na cama, um sono tranquilo. No entanto, Vilma resolveu ficar um pouco sozinha com seus pensamentos, degustando da própria companhia. Então, ligou a TV. Passava um filme antigo, e Vilma percebe que não bebeu nada e nem mesmo se divertiu a noite inteira. Dessa forma, pegou uma garrafa de licor drambuie no barzinho da sala, escondida dentro de um pequeno compartilhamento, preciosidade que ganhou da prima que tinha viajado uma vez para o Exterior e lhe trouxe de presente. O formato da garrafa era bonita, e o gosto do líquido era bom. Vilma adorava e achava justo não querer dividir com ninguém, assim como fazia com seus problemas e angústias, guardando tudo para si.
Sua mente não parava de pensar, sempre voltando ao passado e no que poderia ter sido diferente. Noites como essa começavam a ser frequentes. Alberto passava a semana inteira falando da empresa e, nos fins de semana, estavam todos juntos, não tinham mais tempo um para o outro. Antes mesmo de Mariana partir, já estavam assim. Porém, essa era a maior crise que enfrentavam, e isso a entristecia, pois Alberto parecia fugir, ou era Vilma quem desejava fugir daquela situação, calando-se.
Quem sabe uma nova viagem poderia mudar isso...
Alberto foi o único homem da sua vida, passaram por muitas coisas juntos, foi com ele que Vilma quis ter um futuro. No início, não tinham quase nada. E, agora, não aproveitavam mais nada do que construíram. Tudo mudou tão repentinamente que sentia como quem se perdeu em seus próprios sonhos.
E isso a entristecia, começava a achar que a culpada era apenas ela.
Na manhã de sábado, fez o que fazia todas as manhãs, tomou seu café e foi correr no parque junto com Lorena. Depois, seguiria para a Luna Rosa.
Andressa era sua gerente, já estava com Vilma um pouco mais de seis anos, a moça loira dos olhos verdes e de cabelos ondulados era sempre muito simpática e criativa. Começou como vendedora e, aos poucos, Vilma decidiu se afastar para cuidar mais da casa, de si mesma, e estudar mais. Então, ofereceu o cargo para a moça, que nunca a decepcionou – apesar de certo ocorrido que houve uns dois anos atrás, em um final de dezembro, onde fizeram uma festa na casa da praia e Vilma convidou Andressa, assim como Alberto, que levou alguns casais de amigos. E quase que a festa de final de ano acabou antes de começar... quando um dos amigos casados de Alberto deu em cima de Andressa que, na época, estava solteira. A esposa flagrou o homem aliciando a moça e, mesmo assim, brigou com Andressa. Contrariando o pedido de Alberto, Vilma não dispensou a funcionário, mas perdeu uma cliente, pois a esposa que surpreendeu o marido cheio de saliência nunca mais pisou na loja. O casal continuou junto, e a mulher, ciente das “paqueras” do marido. Vilma sempre pensava no que faria se soubesse de algo desse tipo, o que faria se Alberto a traísse. Entretanto, mesmo com todos os defeitos, ela o amava e logo afastava esse tipo de pensamento.
Luna Rosa tinha um design moderno, a porta era de vidro e nas vitrines sempre tinha dois manequins com modelos da loja, a fachada era de cores brancas e lilás, o letreiro era de formas de Serif, com revestimento em madeira rústica. Por dentro, o ambiente era espaçoso para dar maior tranquilidade aos clientes, onde era cercado de variedades para moda íntima masculina e feminina, e até infantil, pois a loja tentava atender todo o tipo de classe e de público – e, claro, com total discrição. – A loja, além de um segurança, tinha duas vendedoras – fora Andressa, que cuidava do caixa. – O escritório, o estoque e a cozinha/toalete para os funcionários ficavam atrás de um compartilhamento, uma parede com o nome do estabelecimento. Em volta, tinha plantas. Em cima do balcão, perto do computador, uma orquídea adornava o ambiente, era a flor que Vilma mais gostava.
A loja estava no ponto que ela sempre quis, mesmo não tendo uma filial ainda, pois sabia que seu estabelecimento era muito bem frequentado e que lhe rendia bons lucros. Era uma pena que Alberto nunca admitisse isso; ainda mais ele que, quando teve uma crise no emprego, precisou dos rendimentos da loja da esposa para sustentar a casa. Pelo contrário, desde o início, foi contra. O dinheiro usado no projeto era provindo de uma herança da avó de Vilma. Todos que receberam uma parte utilizaram-no da maneira que melhor lhes pareceu. Uns foram viajar, outros compraram casas, carros ou guardaram. Vilma decidiu investir. Na época, seu pai achou uma péssima ideia e nunca pisou na loja, achava o cúmulo que a filha comercializasse “peças de baixo” assim, ao público. Vilma não deu trela aos protestos do pai e seguiu seu sonho. Agora, havia dois anos que o velho tinha falecido, e o homem seguiu à risca a promessa, nunca botou os pés na Luna Rosa.
O dia foi agradável e com movimento, fechavam por volta das sete da noite; às vezes, chegavam às oito, mas era raro. A rua toda era comercial, com alguns escritórios e restaurantes, lojas de muitas variedades. E Vilma saiu mais cedo, já que tinha hora marcada, deixando Andressa com a tarefa de fechar a loja com os demais funcionários. Na segunda, abriria uma hora mais cedo para a diarista limpar e arrumar o estabelecimento, isso era sempre uma rotina no início das semanas.
No salão de beleza, Vilma chegou sem muita vontade, logo seria atendida. Enquanto estava ali, sentada, aguardando, começou a prestar a atenção nas mulheres. Umas se arrumavam para festas, outras, para um jantar; outra era um encontro às escuras; e cada uma comentava suas expectativas para aquela noite, e a expectativa da Vilma era tomar uns drinques com as amigas e voltar para casa.
Quando chegou sua vez, mudou completamente, pediu um novo corte e escureceu os fios, deixando-os em um tom de castanho médio. Também fez maquiagem e serviço de manicure. Quando se olhou no espelho, gostou do que viu. Agora era só escolher a roupa.
Em casa, Vilma tentava decidir qual vestido usaria, um longo preto ou um azul marinho; ficou um tempo olhando para os dois ali, estendidos na cama, e optou pelo preto, que tinha mangas de renda desenhada, e saltos da mesma cor do vestido. Tinha tantas roupas, sapatos e peças diversas que ainda não usara, apenas esperando um convite ou algum evento que valesse a pena... E, dessa vez, ela queria se presentear, mesmo que fosse por algumas horas. Agora só faltavam alguns detalhes. Enquanto terminava de se arrumar, notou que Alberto passou pelo corredor e voltou, parando na porta do quarto.
Aquele momento quase foi mágico, ele tinha reparado, finalmente!
Alberto, já com o seu habitual pijama e com a televisão ligada, ou seja, pronto para um momento de lazer antes de dormir, agora estava ali, olhando para sua esposa, e disparou:
— Tome cuidado com o carro, Vilma, bem que você poderia pegar uma carona com uma das suas amigas.
Vilma ficou sem jeito, abaixou a cabeça e voltou a se encarar no espelho, enquanto respondia.
— Carona? E com quem, Alberto? Eu vou com o carro. Pelo menos, na hora que eu quiser voltar, não precisarei esperar por ninguém.
Mal terminou de pronunciar a frase, quando fitou a porta e notou que ele já não estava mais ali. Furiosa, caminhou até o corredor e bradou:
— Você está me ouvindo?
Alberto já estava na sala, vidrado no seu seriado preferido.
— Eu ouvi, sim... Aí você volta quando quiser, eu sei, Vilma... eu sei.
Era sempre assim, não existia uma briga mesmo, eles sempre terminavam dessa forma, em silêncio. Alberto não se importava com o fato de que sua mulher estava saindo sozinha, isso parecia indiferente para ele. Vilma queria apenas ser notada, receber um elogio, algo que fizesse seu coração se sentir mais aquecido. Estava farta de só trocar carinhos em datas, ela desejava mais, precisava ser amada.
Pronta para sair, passou diante do marido, que já estava vidrado na imagem da TV e não desgrudou os olhos de lá, continuou fitando a “gostosa” que tagarelava no programa da televisão. Nem mesmo a furiosa batida da porta da frente o impediu de gargalhar ao ouvir o bordão da moça.
Era assim que acontecia em muitas noites de sábado. Às vezes, Vilma visitava a filha ou ficava de papo com Zilda. Em outras, lia um livro ou criava ideias para a loja. Pouco usava a internet, porém, tal meio de comunicação a ajudava a passar as horas sem tanto enfado e a mantinha informada sobre vários assuntos.
Durante o caminho para o encontro com as amigas, pensava em uma maneira de resolver isso, quem sabe uma viagem... Não para a casa da praia, talvez uma viagem para fora, passar alguns dias só os dois, visitar outras cidades... Vilma tinha que vencer essa crise, sendo que não era a primeira e que tudo deu certo nas outras vezes.
Vilma parou o carro em frente ao apartamento de Lorena, que logo entrou e a cumprimentou com um beijo, ainda pendurada no celular. Ela usava um vestido vermelho, cabelos soltos e batom rubro. Sim, Lorena sempre foi bonita, e sabia disso, mesmo as duas com quase cinquenta, ambas tentavam manter o equilíbrio.
Vilma já escutou longas DR (discussões de relacionamento) da amiga, e aquela era mais uma. Pelo tom da voz e pelo que pôde entender, a pessoa não iria encontrá-la como o combinado, ou não naquela hora. Vilma, por alguns segundos, teve dó da pessoa que estava do outro lado da linha, pois aguentar Lorena, às vezes, não era tarefa fácil.
Quando chegaram ao tal bar, finalmente Lorena desligou o celular.
— Namorado novo, Lorena? – indagou Vilma.
— Namorado? Eu não tenho mais idade para isso, é apenas um carinha que estou pegando... ou ele é que está me pegando. Eu não sei, amiga, mas é muito bom! – respondeu Lorena, que agora parecia um pouco mais aliviada, porém, sem parar de argumentar. Vilma apenas achou graça naquela situação.
Chegando ao bar, logo encontraram Clarice, Zilda e mais duas moças, primas de Clarice. O barzinho era bastante movimentado, espaçoso e bem decorado. Era agitado, às vezes ficava um pouco quente, mas as bebidas foram chegando e com a conversa desenrolando, tudo pareceu mais leve. Apesar de Clarice ser o centro das atenções, todas ali elogiaram o seu novo corte de cabelo e, quase sem querer, elas sentiram olhares masculinos rondando a mesa onde estavam. Contudo, nenhuma deu bola, afinal, quase todas eram comprometidas, e Lorena não tirava os olhos do celular.
E Clarice contou sobre seu dia, da loucura que foi como seu último sábado de solteira, e que estava tudo quase pronto, como vestido, a decoração e a tinta das paredes da nova casa. Ali passaram algumas horas conversando, reclamando ou apenas ouvindo, embaladas pelo clima do som e dos goles de cerveja. Vilma bebia quase nada. Porém, estava mais divertido ali do que em casa, com certeza, pensava ela.
Vilma admirava Clarice por não ter medo de tentar, a insegurança que a amiga passava parecia que era como se fosse a primeira vez, a moça de rosto redondo, olhos verdes, um sorriso largo, estava pronta para ser feliz mais uma vez.
Desviou sua atenção para Lorena, que toda hora olhava para a porta, decerto, esperando por alguém que poderia chegar a qualquer minuto.
Passado umas duas horas desde que ali chegaram, Zilda começou a se despedir, seguida por Chica, e as outras também concordaram que estava tarde e que aquele lugar ficava cada vez mais cheio. Fecharam a conta e assim se despediram.
— Vamos, Lorena, eu te levo, se quiser dormir em casa – chamou Vilma.
— Não vou para casa agora, ainda é meia noite e meia, eu vou para outro lugar.
— Que lugar, Lorena?
— Bem que você poderia me dar uma carona, não é? Táxi agora é tão difícil de encontrar, não sei se você vai gostar do lugar.
— Mas, qual é o lugar?
Vilma pareceu um pouco irritada, pois era sempre assim, as pessoas julgavam as coisas para ela.
— É uma casa noturna, não é muito longe daqui. Lá as músicas são melhores e tem tudo quanto é tipo de pessoa, a casa não é tão lotada assim... Você me leva, não precisa ficar.
Lorena parecia uma criança de dez anos pedindo algo. Vilma sorriu e foi buscar o carro.
— Vamos, dona Lorena, eu lhe dou uma carona até esse lugar, vamos.
As duas, então, partiram para o centro da cidade.
— Mas, como é esse lugar? Qual o nome? – perguntava Vilma, de olho na direção e preocupada para onde estava indo... e com Lorena, claro.
— É só seguir. Lá na frente te falo onde tem que virar, é uma boate, Vilma, se chama Greats Bar. Não sei se vai gostar, é um ambiente mais fechado, toca flash back e mais um pouco, tem gente nova, gente mais velha... Eu preciso ver uma pessoa.
— Certo... A pessoa que você quase passou a noite inteira pendurada no celular.
— Isso mesmo, ele estará lá, será rápido... Eu preciso estar bem – disse Lorena, olhando no pequeno espelho que carregava na bolsa e, assim, retocando o batom.
— E eu vou conhecer essa pessoa misteriosa?
Lorena sorriu e olhou para Vilma
— Talvez... Eu sei que não me pergunta muita coisa, mas quer saber com quem ando, não é? Eu sei que se preocupa comigo, somos quase irmãs.
Lorena fez um rápido carinho no braço de Vilma.
— Eu vou entrar. Se eu gostar, eu fico, certo, Lorena?
— Tá bom, então.
Depois de seguir as instruções de Lorena, já estavam quase chegando. Passaram por uma avenida de mão dupla e viram algumas mulheres e alguns garotos na rua, uns parados, falando com motoristas de outros carros.
Vilma sabia do que se tratava, mas não disse nada e continuou a dirigir.
— Já teve curiosidade, Vilma?
— Em quê?
— Sair com um desses assim, que faz ponto na rua. Já pensou em trair o Alberto?
Vilma respirou fundo, e não tinha resposta para dar.
— Não sei, Lorena... Pensar em trair o Alberto é claro que já. Quando estou com muita raiva dele, quando o vejo olhando todo bobo para outra mulher... Mas assim, com homens que ficam se vendendo na rua, acho muito perigoso, eu escuto cada coisa que acontece!...
Lorena sorriu quando a amiga falou de Alberto.
— Eu não te imagino traindo Alberto, mas você tem razão. Leva um desses para casa e correrá o risco de acordar sem nada.
Vilma olhou para Lorena, achou estranho o tom que a amiga usou naquela última frase.
— E essa pessoa que está na boate... É amor ou não?
— Ah, não sei, Vilma. Acho que é uma paixão. Tem horas que preciso disso em fortes doses, mesmo sendo assim, arriscado, sem promessas, entende?
— Talvez, Lorena.
— Quando eu era mais nova, nunca senti isso, essa liberdade que tenho e posso escolher... – Lorena fitou Vilma. – É uma mistura de paixão, sexo e perigo. E, quando consigo ou tenho, mesmo que por pouco tempo, sinto-me feliz. Na verdade, sinto-me realizada.
— Quanto mais você fala, acho que menos vou entendendo... Ele não pode ficar com você, é isso? Só ficam um pouco, ele tem outras e você, estou certa?
— Estamos quase chegando lá, Vilma – rebateu Lorena, sorrindo.
— Em nossa conversa?
— Não, ao Great. Agora é entrar ali, pela direita, no começo dá para ver o nome do bar.
Era sempre assim, Lorena conhecia mais o mundo do que Vilma, isso acontecia desde que eram mais moças, as primeiras experiências, as amizades, os pais, os problemas do mundo... Ela sempre tinha um lado filosófico e romântico de ver as coisas, sabia sempre mais que a amiga, porém, insistia em dizer que não dividiria isso com ninguém nunca. Dessa forma, estava sempre envelhecendo sozinha, indo aos lugares sozinha, vivendo sozinha... Lorena sempre sabia de tudo, sempre!
Greats bar era uma casa noturna que ficava do outro lado da cidade, bairro que Vilma pouco frequentou, quando passava por ali, era de dia. O tal bar (ou boate) lembrava um daqueles casarões antigos, com janelas estreitas, fechada com apenas uma porta de entrada e com um letreiro em neon com o nome do estabelecimento. A rua também era estreita e de paralelepípedo, cheia de carros no acostamento.
Logo que estacionaram, foram para a entrada, as duas passaram pelo segurança sem pagar, o rapaz parecia já conhecer Lorena. Assim que entraram Vilma pode observar e conhecer aquele lugar.
Assim que entraram, subiram três lances de escadas e passaram por um grande pano escuro, uma cortina preta. O chão era de assoalho de madeira, o bar dava para ser visto, pois tinha luzes de neon em volta de todo o balcão, também havia um globo girando sobre a pista e luzes fluorescentes que ficavam no centro do salão. Em volta da pista de dança, tinha mesas e cadeiras, até sofás de cor branca, era espaçoso, não dava para imaginar a quem observasse de fora, e tinha escadas para o piso de cima. Contudo, Vilma não subiu, apenas deu uma olhada, o lugar tinha bastante gente em ambos os pisos. Vilma esquadrinhou em volta e não achou mais Lorena. Então, mesmo ainda não sabendo se gostava ou não do lugar, achou melhor ficar um pouco. Caminhou em direção ao bar e logo pensou era ali que Lorena se escondia por várias noites, e ali era o lugar que se aventurava.
Pediu uma bebida para a moça que ficava atrás do balcão, tinha tatuagens e piercings, mas era muito simpática. No salão, tocava Heart of Glass, música dos anos 70/80, mas com nova versão, e Vilma achou agradável. Dali, ficou escutando o repertório, olhando as pessoas dançarem, lembrando quando, certa vez, ela e Lorena queriam montar uma dupla como a Baccara, e tantas outras coisas que queriam os discos... Por onde será que andavam seus discos?
Viu um casal se beijando. No primeiro momento, não sabia se era um casal ou duas moças, mas ela não encarou e ficou ali, distraidamente dançando sozinha com seus pensamentos, bebericando um Dry Martini e esperando por Lorena, que não voltava nunca.
Vilma continuou ali, naquele canto, era tudo muito novo. Para quem nunca pisou em um lugar como aquele, a casa cheirava a perigo, talvez por estar um pouco escuro e por ter muita gente espalhada, apesar dos olhares que seguiam na sua direção e que ela evitava encarar. Ali tinha muitos jovens e moças com roupas ousadas, como couro ou vinil, umas sentadas, outras conversando com alguém, em pé; e tinha também pessoas na pista, dançando, embalados pela mesma música que Vilma estava ouvindo e curtindo como há muito tempo não fazia, mesmo que sozinha ali, parada com seus pensamentos.
Quando começou a seleção dos anos 80, ela notou que todas eram familiares, pois foi bem na época em que conheceu Alberto. Quando tiveram a primeira filha, muitas vezes ninava Mariana ao som dessas músicas, tanto que, anos depois, a filha disse que queria ter sido adolescente na década de 80, pois gostava das canções e do colorido das roupas.
E Lorena, que não volta... Com quem será que ela está? Devo ir? Só mais essa música. Depois dessa, eu vou embora... – pensava Vilma, escutando a melodia, apreciando o drink.
“Lança. Lança perfume... dança, menina, lança todo esse perfume”...
A seleção foi trocada e voltaram para os anos 70.
A casa inteira dançava naquele som frenético, nostálgico, na verdade. Uma adrenalina que, havia muito tempo, Vilma não lembrava mais o que era. Filha de pais zelosos, saiu muito pouco. Ou, quando o fazia, era sob a supervisão de um adulto, até mesmo nas matinês de sábado. Quando casou, ficou ainda mais difícil, ainda que ela e Alberto se conhecessem em um baile de carnaval.
E Vilma observava a pista, vendo as pessoas mais soltas e livres. Avistou um grupo de rapazes. Na verdade, uma turma que estava na pista. Pareciam se divertir, e uma pessoa ali chamou a sua atenção. Foi assim que tudo mudou na vida da Vilma...
Ele era um jovem bonito e com um sorriso maravilhoso, dançando naquela pista, um desconhecido que Vilma não conseguia mais parar de olhar.
Foi ali que tudo mudou.
Vilma não conseguia desviar o fitar, seus olhos não queriam deixá-lo. Será que o conhecia de algum lugar? Isso ela não sabia, mas o achava muito moço para se divertir ao som das músicas que Vilma gostava. Ele parecia tão livre dançando no meio da madrugada. Contudo, ela se recriminava por olhar, por criar interesse. Era casada, era bem mais velha, e Alberto estava em casa, esperando por ela.
— Eu não tenho mais dezoito anos, não devo flertar com ninguém... Ah, Lorena, preciso ir embora – murmurou consigo mesma.
Ainda assim, voltou a olhar para pista e, dessa vez, seus olhos encontram os dele. Dessa vez, ele começou a fitá-la. Porém, não fez mais que isso, e continuou no grupo.
Claro ele deveria estar com a namorada. Talvez, se fosse mais jovem ou desimpedida, o rapaz até se aproximasse, porém, não era bem aquela situação de Vilma, eram tantos pensamentos... Era hora de ir, a noite foi agradável, viu muita gente, e aquele garoto, mesmo na pista de dança, fez seu coração mais reconfortante. Todavia, não dava para ficar ali, sorrindo como uma boba a noite inteira, então, resolveu ir embora. Lorena não apareceria, talvez tenha até ido embora. Depois ela ligaria para a amiga, já que estava com a carteira e com os documentos. Porém, Vilma tentou encontrar mais uma vez o garoto na pista, parecia que ele tinha evaporado. O grupo ainda estava na pista, alguns casais se beijavam sem nenhum pudor, cheios de malícias, mas nada do garoto.
Vilma então pegou a bolsa e fecharia a sua conta, quando começou tocar If I Can't Have you, era uma das músicas que mais gostava de ouvir, sozinha ou com as amigas. Nunca se sentiu uma mulher fatal, contudo, aquela noite foi diferente, flertou com um jovem desconhecido. E, para sua surpresa, ela percebeu que quem estava encostado no balcão era ele. O garoto da pista de dança.
Vilma, em uma atitude impensada, pediu para a moça de piercing não cobrar a bebida do rapaz, pois ela mesma pagaria.
Pela primeira vez na vida, faria algo sem pensar, pagaria uma bebida para um desconhecido, um belo e jovem rapaz. E gostou de fazer isso, Vilma se sentiu bem.
O rapaz a olhou e não ficou surpreso, talvez um pouco intrigado. Porém, agora estavam ali, tão perto... E, sim, ele era ainda mais bonito de perto. Vilma continuou em silêncio, esperava a moça fechar sua conta ali mesmo, e ela o fitou, enquanto ele a olhava e dizia:
— Obrigado pela bebida, mas eu tenho dinheiro.
Ele estava chegando mais perto, segurando o copo e sorrindo.
— Não se preocupe, é apenas uma bebida – respondeu ela, tentando ser mais descontraída possível.
— Isso é verdade. Você não vem muito aqui, não é?
Então, ele a viu também, realmente estavam se olhando quase o tempo todo. Ela achou graça e disse:
— Não, hoje eu vim com uma amiga, e gostei do lugar, essa música mesmo é do meu tempo.
Vilma sentiu que o rapaz se aproximava um pouco mais, assim ela observava os seus olhos de um tom esverdeados, cabelos castanhos, um pouco ondulados, rosto de menino, alto, com jeito de quem malhava um pouco ou que deveria cuidar bem da saúde. Sim, muito bonito, bem vestido e perfumado.
Mais uma vez, ele abriu aquele sorriso, e sempre a fitava direto nos olhos. Em um tom divertido, falou:
— Do seu tempo? Imagina, não existe essa de tempo, nosso tempo é agora.
“Nosso tempo é agora”.
— Mas, obrigado pela bebida.
— Não precisa agradecer.
— Já está indo embora?
Com certeza, ela nunca mais o veria.
— Já.
— E a sua amiga, cadê?
Era estranho ele ainda puxando conversa, mas Vilma deixou rolar.
— Sumiu, deve ter encontrado o gato que esperava e estão por aí.
— E você?
Ela quase poderia tocá-lo de tão perto que estavam.
— Eu? O que tem eu?
Vilma sorriu com a situação, pelo desafio, pela conversa boba. E pela troca de olhares.
— Cadê o seu gato?
— Eu não tenho, só fiquei pelas músicas.
Ele sorriu novamente, olhou para a pista e voltou para ela.
— Meu nome é Miguel.
Miguel...
— Prazer, Miguel. O meu é Vilma.
Eles não trocaram cumprimentos, apenas se olhavam e sorriam um para o outro.
Miguel tomou um gole da bebida.
— Obrigado novamente pelo drink, até uma próxima, Vilma.
E, assim, ele partiu. Vilma o viu se afastar, mas logo se recriminou por se sentir assim, tão triste por vê-lo partir.
A moça que a atendeu a noite inteira, antes de entregar a comanda, perguntou sem muitos rodeios:
— Não quis nada com o garotão?
— Ele é muito jovem e eu sou casada – respondeu Vilma, tentando sorrir e quase pronta para partir, mostrando a mão esquerda com a aliança.
— Mas isso não é problema para ele, não – declarou a moça. – Aquele garoto, aquela turma ali, não tem problemas com isso.
— Como assim?
— Ora, se você quiser, é só pagar. Aquele rapaz é um garoto de aluguel... Aliás, todos ali da roda são... É só fazer o preço e levar.
Curtam agora a canção que foi a grande inspiração para Roberta Del Carlo:
Acompanhem com a letra de: Garoto de Aluguel
Baby!
Dê-me seu dinheiro
Que eu quero viver
Dê-me seu relógio
Que eu quero saber
Quanto tempo falta
Para lhe esquecer
Quanto vale um homem
Para amar você
Minha profissão
É suja e vulgar
Quero um pagamento
Para me deitar
E junto com você
Estrangular meu riso
Dê-me seu amor
Que dele não preciso
Oh! Oh!
Oh! Oh!
Ooooooh!
Baby!
Nossa relação
Acaba-se assim
Como um caramelo
Que chega-se ao fim
Na boca vermelha
De uma dama louca
Pague meu dinheiro
E vista sua roupa
Deixe a porta aberta
Quando for saindo
Você vai chorando
E eu fico sorrindo
Conte pras amigas
Que tudo foi mal (tudo foi mal!)
Nada me preocupa
De um marginal
Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh!
Oooooooooh!
Baby!
Dê-me seu dinheiro
Que eu quero viver
Dê-me seu relógio
Que eu quero saber
Quanto tempo falta
Para lhe esquecer
Quanto vale um homem
Para amar você
Minha profissão
É suja e vulgar
Quero um pagamento
Para me deitar
E junto com você
Estrangular meu riso
Dê-me seu amor
Que dele não preciso
Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh!
Oooooooooh!
Baby!
Nossa relação
Acaba-se assim
Como um caramelo
Que chega-se ao fim
Na boca vermelha
De uma dama louca
Pague meu dinheiro
E vista sua roupa
Deixe a porta aberta
Quando for saindo
Você vai chorando
E eu fico sorrindo (vá!)
Conte pras amigas
Que tudo foi mal (tudo foi mal!)
Nada me preocupa
De um marginal
Oh! Oh!
Oh! Oh!
Oooooooh!
Oooooooh!
(letras.mus.br)
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